José Ferreira de Melo Neto - Diretor Superintendente do SEBRAE/RN
O potiguar, comedor de camarão, é pacífico, hospitaleiro e acolhedor. Atributos indispensáveis para o turismo, excelentes para o turista. Tenho dúvidas, porém, se essas seriam as qualidades mais adequadas a um povo que precisava desenvolver potencialidades adormecidas nas entranhas da sua terra. Parece-me que, durante muito tempo, ficamos acomodados, até omissos. Esperando acontecer, aceitando decisões que não eram nossas. Refiro-me à trajetória do petróleo no Rio Grande do Norte.
A história é controversa. Alguns pesquisadores acreditam que a primeira ocorrência de petróleo no Brasil aconteceu no município de Apodi, no século XIX. Encontrei na internet um texto de autoria do padre Florêncio Gomes (transcrito por Karla Larissa): “Em um dos recantos da lagoa desta vila (do Apodi), que está mais em contato com as substâncias minerais da serra, tem-se coalhado, em alguns anos, uma substância betuminosa, inflamável e de boa luz, semelhante à cera, em quantidade tal que se podem carregar carros dela”.
O betume do padre Florêncio esperaria até 1979 para ser comercialmente viável. O campo de Mossoró, descoberto no ano anterior, teve o poço MO-14 como o primeiro a entrar em operação regular, em 27 de outubro daquele ano. Seu pioneirismo se concretizou nessa data, com o carregamento de 27 mil litros de petróleo produzido na porção terrestre da Bacia Potiguar. A euforia dominou todo o Estado. O título de maior produtor de petróleo em terra firme nos caiu como uma luva. O óleo que enchera as piscinas do Hotel Thermas inspirou histórias e estórias.
Em outro salto espetacular, se não pelo número de anos mas pela relevância do fato, a história do petróleo no Rio Grande do Norte chega a dois de outubro de 2009. Nessa data, fruto de um convênio assinado anos antes entre SEBRAE e Petrobras, nasceu juridicamente a Redepetro RN. Deixamos de ser turistas a olhar a paisagem. Somos protagonistas, parceiros nas oportunidades que nos asseguram nosso subsolo, prenhe de recursos naturais esgotáveis.
A Redepetro RN, hoje com mais de 90 empresas associadas, tem como foco principal a geração de negócios e a articulação entre a demanda e a oferta, além de fomentar a capacitação, certificação e inovação tecnológica em empresas que prestam serviços ou produzem bens nos segmentos de exploração, produção, refino, transporte e distribuição de óleo e gás natural. Sabiamente, a rede também prospecta energias renováveis, como a eólica e a biomassa. Pensa no futuro, vê o horizonte.
A rede é a prova cabal e definitiva do poderio dos pequenos negócios, que podem conviver e prosperar, não à sombra, mas ao lado de grandes empresas, inclusive a Petrobras. A esta, nada ficam a dever em termos de qualidade de gestão, de processos e de produtos. Ou de inovação, conforme atestam as altas performances de empresas potiguares durante a Rio & Oil Gás, maior evento do gênero na América Latina, realizado de 13 a 16 de setembro.
Não foi simples e nem foi fácil. A conquista de certificações indispensáveis ao credenciamento de pequenas empresas como fornecedoras da Petrobras e de outras gigantes é um processo complexo, mas definitivamente vencido. Acredito que em futuro próximo teremos, não uma terra devastada, mas um Estado detentor de uma forte teia de negócios viáveis, produzindo bens e serviços sustentáveis, constantemente renovados, garantia de bons ventos para o povo potiguar: pacífico, hospitaleiro e acolhedor.
Fonte: Tribuna do Norte
Fonte: ApoDigital
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