Apodi é um município que se destaca pelas suas riquezas naturais, motivo de orgulho que alimenta o bairrismo dos que nasceram nesta terra que possui um dos solos mais férteis do mundo. No entanto, os benefícios gerados por essa riqueza ainda estão distantes de uma comunidade esquecida pelo poder público municipal: o assentamento Bregueço.
O próprio significado da palavra, já dá uma idéia do lugar: objeto imprestável ou de uso duvidoso, é o que consta no dicionário। Ao entrar no assentamento, distante 50 quilômetros da sede do município, na fronteira com o Ceará, desprovido de qualquer beleza natural, a impressão que se tem é que a vida estacionou ali e que aquelas 28 famílias que formam a comunidade estão isoladas da civilização.
E de fato, em alguns períodos do ano, elas ficam mesmo isoladas, pelas péssimas condições das estradas, que mesmo no verão, impossibilitam o tráfego de veículos। As condições de vida da população do Bregueço se igualam aos padrões de miséria das regiões mais pobres da África, com casas desprovidas de mobília e de qualquer tipo de conforto e da ausência total de acesso aos benefícios da civilização no século XXI.
O assentamento está localizado na região da Chapada, em terras que já pertenceram ao empresário Terceiro Melo e que foram compradas pelo INCRA no processo de desapropriação, para assentar famílias que não tinham um pedaço de terra। A falta de investimentos no processo produtivo, faz com que seus moradores vivam basicamente de aposentadorias e programas sociais do Governo Federal. Uma realidade bem diferente de outros assentamentos localizados nesta região.
A comunidade está há três meses sem acesso a água potável, porque a bomba que abastece as residências está quebrada e apesar da insistência do vereador Chico de Marinete para que a secretaria de Agricultura providencie o conserto, até o momento, a comunidade sequer foi visitada por qualquer representante do poder público municipal। “O jeito é andar quilômetros para ir buscar água”, diz um morador, resignado com a falta de acesso a um bem essencial.
Essencial também deveria ser o acesso à escola, mas as crianças e os jovens da comunidade freqüentam uma única escola, que funciona de forma multiseriada, cujo professor pretender vir para a cidade antes do final do ano। A distorção idade/série é visível na escola, onde adolescentes de 14 anos ainda estão no processo de alfabetização. “A gente vem aqui pra aprender a ler, mas a escola não tem nada”, resume a aluna.
São apodienses que vivem no limite da miséria e que só são lembrados pelos políticos a cada nova eleição, o que vem provocando uma revolta naquelas pessoas humildes que se sentem à margem da sociedade। “A presença do poder público naquela comunidade se limita apenas às fotos da prefeita, colocadas em todas as residências na época da campanha”, comenta o vereador Chico de Marinete, que visita a comunidade com freqüência.
“São filhos de Apodi, como nós e precisam ser lembrados pelo poder público porque quem vai lá, sente-se impotente diante do descaso com aqueles cidadãos esquecidos”, lamentou o presidente da Câmara, João Evangelista que esteve na comunidade no domingo e ficou sensibilizado com a falta de perspectiva de jovens e crianças que vivem naquele lugar।
No final do inverno, os Vereadores em Ação fizeram o Rally da Cidadania, no qual percorreram de moto os quatros cantos do município, para terem uma idéia das condições de acesso às comunidades mais afetadas pelas enchentes. “Para ser ter uma idéia do isolamento dessa comunidade, naquela época, não conseguimos ir de moto até lá. Só seria possível ir a pé, com lama até a canela”, diz o presidente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário