A escassez hídrica atual na região semiárida, que desde 2012 vem causando uma diminuição nos índices pluviométricos, gera a necessidade de busca de alternativas para uso da água, como é o caso das tecnologias de uso de efluentes salinos, domésticos e industriais.
As pesquisas voltadas para o reúso de águas hipersalinas apontam para estratégias inteligentes no reflorestamento de áreas degradadas de manguezal. As águas hipersalinas são aquelas que circulam em tanques de cristalização atingindo altas concentrações de sódio e precisam ser descartadas nos corpos hídricos ou recirculadas nos tanques de sal. Estes efluentes são fontes potenciais de nutrientes contendo altos teores de sódio, potássio, cloreto, sulfato e magnésio.
No Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal do Semiárido (Ufersa), em Mossoró (RN), o pesquisador Lucas Ramos da Costa desenvolveu a pesquisa “Uso de águas hipersalinas na produção de mudas de mangue branco”. O estudo está ligado ao projeto Bramar da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e ao Programa de Mestrado em Manejo água e Solo da Ufersa. O Bramar é um projeto em rede de cooperação entre Brasil e Alemanha que tem como um dos objetivos analisar o potencial e avaliar os efeitos da aplicação de efluentes na produção de cultivos agrícolas, forrageiras e florestais no Nordeste brasileiro.
A pesquisa
A pesquisa avaliou a utilização de águas hipersalinas na produção de mudas de mangue branco (Laguncularia racemosa) na área rural do Semiárido, e foi implantada na comunidade de Requenguela, em Icapuí (CE). Foram comtempladas 30 famílias com o projeto de reflorestamento de áreas degradadas, que receberam 200 mudas provenientes da finalização da pesquisa.
As variáveis analisadas foram: número de folhas, diâmetro do caule e altura da planta. O experimento foi realizado em 360 plantas, divididas em 24 blocos contendo 15 plantas cada um, que receberam 10 litros de água hipersalina diluída em água de abastecimento urbano por dia. Ao todo foram realizadas seis diluições.
Os resultados finais revelam que o crescimento do número de folhas é significativo com relação às amostras que receberam água com alto teor de salinidade, que cresceram cerca de 3 folhas por planta. Comparativamente, as amostras que receberam apenas água de abastecimento urbano apresentaram um crescimento médio de 15 folhas por planta.
No que diz respeito à altura da planta houve um crescimento mais de 100 %, com base nos dados iniciais das mudas, irrigadas com 2,400 litros de água hipersalina diluída, mediam 7 cm, sendo que no estágio final o resultado obtido foi o crescimento de cerca de 17 cm.
De acordo com o pesquisador, o estudo concluiu que as amostras irrigadas com 5.300 litros de água salina diluídas apresentaram os melhores resultados, as medidas de diâmetro do caule no início mediam 2,0 milímetros, após os testes as amostras chegaram a 3,5 milímetros de diâmetro.
Esta alternativa de reúso pode proporcionar um fim nobre ao efluente despejado nos mananciais hídricos, reduzindo os impactos ambientais causados por essa prática.
Segundo Lucas Ramos, o papel social desta pesquisa proporciona benefícios sustentáveis para a sociedade, sendo evidente o caráter ecológico. E demonstra uma atividade tão atual que é a reutilização da água, evidenciando o uso racional deste recurso tão importante para a manutenção da vida, destaca o pesquisador.
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