terça-feira, 22 de setembro de 2015

Balada do Impostor‏ - José de Paiva Rebouças - Jornalista

Não separe meninos e meninas.

Me surpreende, às vezes, algumas atitudes velhas que se repetem mesmo depois de tanta discussão. É o cara pedindo a volta da ditadura militar, outro chamando homossexuais de doentes, mães definindo a cor do sexo, igrejas determinando quem vai ou não para o céu. Questões graves que fazem apologia ao estupro, ao ódio e à intransigência religiosa, ideológica, política e de classes. A redução do papel da mulher, entre outras tolices que vejo o tempo todo na internet, na televisão e, pasmem, no Congresso Nacional.

Ver pela mídia incomoda, mas quando vivenciamos é que temos noção do quanto é necessário conversarmos mais sobre tudo isso. Racismo, preconceito ou sexismo são assuntos tão presentes no dia a dia que ainda há pessoas que os achem “normais”. Natural do comportamento cultural brasileiro, ou da região, ou do estado, ou do município e assim vai. Desculpas e mais desculpas para manter vivas as antigas práticas equivocadas do convívio social declinante.

Numa saída com colegas me incomodou bastante o ato de separar meninos de meninas. Todos na mesma mesa, mas cada grupo do seu lado e aí aquela proposta de confraternização se dissipou. A ideia que surgiu das conexões dialogais desencapadas de ambos os sexos acabou encaixotada de acordo com o gênero. Então o barulho cessou.

Porque é isso que acontece quando se separa aquilo que se supõe oposto. Meninos e meninas, gays e heteros, crentes e ateus, velhos e moços, ricos e pobres não são diferentes, mas por terem pontos de vistas diferentes fazem as conversas fluírem como um rio perene. A separação desses elementos enfraquece o curso desta água e ameaçar o manancial de morte.

Precisamos conversar mais sobre essas coisas, mas juntos, meninos e meninas, do contrário serei eu novamente o primeiro a pedir a conta e ir embora.

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