segunda-feira, 12 de julho de 2010

Nos jardins da Gazeta




KELPS LIMA

O advogado Kelps Lima, candidato a deputado estadual pelo PR, tem como um dos pilares do seu projeto político, sua passagem pela Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal, onde fez trabalho que mereceu até prêmio. Ele diz que não pensava em sair candidato, quando recebeu convite do seu partido e topou o desafio. Nesta entrevista ele também faz análise do quadro sucessório.

Entrevista concedida aos jornalistas Luís Juetê e Gilberto de Sousa

GAZETA DO OESTE - O senhor foi secretário da Mobilização Urbana, em Natal, de lá saindo para um novo desafio. Como foi o seu trabalho lá, qual a repercussão que você acredita tenha sido dada, e o que você pode destacar?

KELPS LIMA - Aconteceu comigo um negócio interessante, quando eu fui ser secretário da Mobilidade Urbana na capital. Eu tentei ser candidato a vereador em 2008, e não consegui. Saí um pouco frustrado do processo, quando a prefeita Micarla de Souza venceu as eleições e me convidou, juntamente com o deputado federal João Maia, para que eu fosse secretário da então STTU, Secretaria de Trânsito e Transportes Urbanos. Eu, naquele momento, tinha a certeza de que não seria candidato tão cedo, era uma convicção plena que eu tinha, e fiquei muito feliz por ter tido a oportunidade de pôr em prática tudo aquilo que a gente acreditava ser certo na administração pública, tinha feito especialização em gestão pública, estudado muito, e achava que era uma grande oportunidade para eu entrar. E como eu não ia ser candidato, não tinha problema político nenhum, poderia tomar algumas medidas, inclusive, impopulares. E nós elaboramos dois grandes projetos para a secretaria, um denominado Via Livre, voltado para o trânsito, e o outro chamado Passe Livre, que era para o transporte público. Os dois mexiam na cultura do motorista e do passageiro de ônibus na cidade. E aí iria surgir muita polêmica. A gente disciplinou o estacionamento na avenida mais chique de Natal, frequentada pela classe A. Nós temos quatro grandes avenidas na cidade. Isso gerou um grande barulho, algumas pessoas protestando, mas a gente não esperava que o retorno positivo do projeto viesse tão rápido. A gente assumiu em janeiro, quando foi em junho o projeto Via Livre já ganhou um, prêmio nacional de melhor política de mobilidade urbana do Brasil. E, nesse momento, o deputado federal João Maia começou a conversar comigo e perguntou se eu não queria ser candidato, no dia do recebimento do prêmio, em Brasília. Eu respondi: "João, eu não tenho a menor chance de ser candidato. Eu estou proibindo estacionamento em Natal, regularizando o trânsito, o povo está com raiva de mim, eu não ter nenhum voto". Então, eu tinha certeza de que com o Via Livre e com o Passe Livre, eles iriam dar um excelente resultado, no futuro, mas o reconhecimento disso iria demorar.


GO - A médio ou longo prazo?

KL - Isso. Não haveria um retorno que proporcionasse uma candidatura. Para minha surpresa, ocorreu exatamente o contrário. Os índices de aprovação da secretaria eram muito altos, eram os programas mais bem avaliados na gestão da prefeita Micarla e, em dezembro, eu fui intimado pelo deputado João Maia para submeter meu nome ao partido, nas convenções, uma vez passado, foi o que ocorreu, apresentar a candidatura a deputado estadual. Portanto, eu fiz o que todo mundo achava que eu iria fazer o contrário, para ser candidato. Terminou dando certo e a gente vai ver se isso vai render votos, neste ano. Essa é a dúvida que daqui a três a gente vai tirar.


GO - Como está o PR em nível de Rio Grande do Norte e, especialmente, em nível de região Oeste?

KL - O deputado João Maia, quando começou a organizar o Partido da República no Rio Grande do Norte ele desejava se candidatar ao governo. Depois, não foi à toa que houve todo alvoroço durante as convenções para que o PR indicasse o candidato a vice-governador. O PR administra algumas das maiores cidades do Estado, possui 25 presidentes de Câmaras Municipais, centenas de vereadores, lideranças importantes, mas não tem uma representação na Assembleia Legislativa. Essa é uma lacuna que põe o partido em bastante dificuldade, porque João fica em Brasília, no seu mandato de deputado federal, um grande mandato, pois foi considerado um dos cinco parlamentares mais influentes do Brasil, relator de dois dos projetos mais importantes dessa legislatura da Câmara Federal. É uma grande referência nacional. Mas ele sozinho não tem como tomar conta de todo partido no Estado. Foi aí que o partido deliberou que deveria apresentar candidaturas fortes para deputado estadual, vários nomes do partido, inclusive um vereador daqui de Mossoró, Genivan Vale, e a gente formou uma boa nominata e espera-se que eleja dois ou três deputados estaduais para representar o partido e o povo do Rio Grande do Norte na Assembleia Legislativa.


GO - O senhor acredita que tenha sido até um erro do deputado João Maia não ter lançado, nas eleições passadas, alguém com representatividade como candidato?

KL - Foi um erro de estratégia política, sim. Ele obteve uma votação que dava para eleger três deputados federais, levando em consideração a deputada Sandra Rosado, que saiu da coligação com 65 mil votos no Estado. João teve 200 mil, três vezes mais, e não elegeu nenhum estadual. Ele poderia ter sido eleito com 150 mil votos e ter concentrado uma eleição de deputado estadual que iria facilitar enormemente a atuação do partido. Neste ano, o PR fará pelo menos dois deputados estaduais. Isso é bom para o Rio Grande do Norte e para a democracia, porque o PR é um partido que tem uma visão desenvolvimento e de planejamento muito grande para o Estado, basta olhar a forma como atua o deputado João Maia e a forma que os representantes do PR tem atuação. A gente, por exemplo, na Semob, procuramos apresentar políticas públicas inovadoras, coisa nova, sem custos. Os projetos Via Livre e Passes Livres não necessitam de nenhum gasto da Prefeitura de Natal. Só o Passes Livres representa 1 milhão de viagens de ônibus, de graça, por mês, para o trabalhador, a dona de casa, o estudante em Natal. Ele anda em dois ônibus numa viagem que só paga um. Isso gera uma economia anual de R$ 24 milhões para o trabalhador, e custo para a Prefeitura de nenhum centavo. Essa é a forma de a gente pensar a coisa pública, a gestão, o dinheiro do povo, a sociedade. Para isso precisa ter também uma representação na Assembleia, e é isso que o partido está tentando.


GO - Ainda falando na eleição, no campo proporcional, essa coligação PMDB/PV/PR, na sua opinião, foi bem construída, e vai permitir, ao PR, especificamente, conquistar quantos assentos no parlamento?

KL - Independente da questão eleitoral, administrativamente ela é muito boa para o Rio Grande do Norte. Eu vou dar o exemplo de Natal: Lula só vem a Natal e tem contato com a prefeita Micarla de Souza depois dessa coligação. A última vinda de Lula a Natal foi por causa da coligação PR/PMDB/PV. Foi a São Gonçalo, que o prefeito é do PR; foi assinar a ZPE de Macaíba, a prefeita é do PMDB; foi inaugurar a UPA, em Natal, a prefeita é do PV; e foi assinar a ZPE de Assu, que foi idealizada por Ronaldo Soares, que é a maior liderança da região, e que é do PR. Portanto, essa aliança pode trazer muita coisa boa para o Rio Grande do Norte. Sem nenhuma dúvida, hoje, Henrique Eduardo e João Maia são os dois parlamentares com maior capacidade de trazer recursos para o Estado. Os dois podem ser ministros no próximo governo, pois são muito cotados. Na hora que eles estão unidos politicamente, e que isso trará consequências eleitorais para os partidos, o PMDB vai eleger deputados estaduais, renovar o mandato de Henrique Eduardo, e o PR também vai crescer. Agora vai trazer muitos resultados administrativos, isso é o que interessa à população do Rio Grande do Norte. Não vale apena alianças eleitorais que não tragam benefício para o povo. Aliança eleitoral que só traga benesses para quem é candidato não é boa. Aliança tem que fixar na capacidade administrativa, o que pode trazer de bom para o povo. Se ela não tiver essa resposta, no primeiro olhar que a gente tem nela, não é uma boa aliança para a sociedade.


GO - Essa questão do eleitorado, hoje, que isso é uma coisa clara favorece a essa mudança ou já tem possibilitado algum tipo de reflexo?

KL - Eu só sou candidato porque acredito que essa cultura está mudando, senão não o seria. Tudo passa pelo critério de escolha do candidato. Nós temos um critério de escolha de todos os profissionais com quem nos relacionamos no dia a dia. Se seu filho estiver doente, com febre, e você quer levá-lo ao médico, o que você quer que o médico faça? Que ele cure a dor e pare o choro da criança. Se o médico é simpático, carismático, bonito ou sorridente, não tem importância nenhuma, se curar a doença do menino. Se por acaso ele tiver esses atributos, melhor, mas tem que curar, isso é o importante, que seja competente e honesto, diga a você o que está havendo. Só na política, a única área que a gente se relaciona com profissionais em que eles não atendem a esse critério. O primeiro critério é: "Fulano vai ganhar a eleição porque ele é muito carismático". "Beltrano é simpático. O doutor tem estrutura". No próprio momento em que essa criatura ganha a eleição, não sabe administrar. E nem sabe ser parlamentar. Não tem nenhuma vocação ou competência para isso. Aí, o que a gente faz? É a mesma coisa de pegar meu filho e levar para um médico que tem um sorriso lindo e que vai matar a criança por dar medicação errada. Ou a gente muda esse critério de escolha, ou não haverá renovação na política do Rio Grande do Norte. Haverá somente troca de nomes. Quando foi a renovação na Assembléia? Se não mudar a cultura do critério na escolha do voto, a renovação será sempre nenhuma.


GO - Esse fato é a questão da herança política?

KL - Eu não tenho nada contra. Muito pelo contrário. Eu acho natural você vê seu pai na profissão, seu irmão, seu tio, e, por admiração, por estar no convívio, você querer seguir a mesma carreira, pela vocação natural, mas tem que estudar, tem que saber fazer, ter projeto. A gente vive num Estado muito pobre, tem muita gente que morre de fome. Eu hoje cheguei a Mossoró, fui visitar um amigo, e ele estava no telefone com uma pessoa que teve uma fratura, saiu de Governador, e aqui não tinha como ser atendido, e foi para Russas, no Ceará. É de lamentar. Uma fratura, que é algo que ocorre, continua na mesma, você não tem um local de traumatologia numa cidade do tamanho de Mossoró, que possa atender às demandas daqui da região.


GO - Em relação a apoios, você tem costurado isso, como está sendo trabalhada essa questão?

KL - Estou muito feliz, da forma que a candidatura vem sendo construída. Primeiro, eu tenho muita consciência de que a minha candidatura de partido. O mandato não é nosso, caso ele venha a existir, como essa candidatura não é nossa. A organização dentro do partido pretende eleger dois ou três, e eu tenho a responsabilidade e o cuidado de conduzir isso, de forma que o partido tenha as vagas. Obviamente trabalhar para que uma dessas vagas seja minha, pois temos nove candidatos. Mas sempre com muito respeito aos colegas. A gente tem recebido apoios muitos significativos, que nos deixam muito honrados, de vereadores de Natal, prefeitos de cidades importantes do Estado, como São Gonçalo do Amarante, doutor Pinheiro, em Apodi, que é uma grande liderança aqui da região, já foi prefeito três vezes, acima de tudo é um homem muito sério, correto, honesto, de convicção muito forte. Então, estamos muito orgulhosos disso. Temos uma candidatura competitiva, com chances de vitória, mas esse processo eu encaro, acima de tudo, como uma oportunidade de debate, porque o apoio melhor que você pode ter é o direto do eleitor, sem intermediários. E é isso que a gente tenta conquistar, reconhecendo a importância de cada um dos apoios das lideranças políticas agregadas ao nosso projeto.


GO - Voltando para a política, o PR já definiu os dois votos para o Senado?

KL - O deputado João Maia e o partido deliberaram que o primeiro voto é do senador Garibaldi Filho, porque está na coligação. Seria incoerente se assim não fosse. O segundo voto, a princípio, está em aberto para cada membro do partido escolha seu candidato. E aí, esse processo está se dando agora no mês de julho, e a gente não sabe se o partido vai marchar unido em torno de uma candidatura de segundo voto ou se vai liberar. Isso vai ser deliberado agora, com as conversas políticas, que o partido delegou ao deputado federal João Maia, que é o líder maior, para que ele fizesse junto aos candidatos ao Senado.


GO - Dada a oportunidade ao advogado Kelps de se posicionar em favor de um segundo voto, qual seria?

KL - Eu confesso a você que ainda não me defini, mas eu tenho uma preocupação muito grande. O Senado da República é a casa legislativa mais importante, porque lá a gente tem o mesmo tamanho de São Paulo. Todos os Estados são iguais. A gente precisa colocar no Senado gente que tenha orgulho. Lá, seu Estado está sendo ouvido, representado, tem alguém lutando pelo Rio Grande do Norte e pelo país, como senador, não luta só pela unidade federativa que ele representa. É uma casa de iguais. Eu acho que a gente deve votar sem fazer política pequena, para quem não vai atrás de emenda para ganhar cargo, arranjar um belo emprego. O Senado não é casa de aposentadoria para ninguém. Acho que o critério de escolha é por alguém que a gente tenha orgulho de votar, que traga benefício para o nosso Estado, que é pobre, que tem a representatividade federal pequena, fazemos parte dos Estados com menor representação na Câmara Federal. A nossa sorte é termos uma representação muito qualificada. Já que a gente tem poucos, temos que ter no Senado e na Câmara Federal os melhores.


GO - E em relação à região Oeste, efetivamente pobre, que vem perdendo representatividade na Assembleia Legislativa a cada eleição, o que você pensa deva ser feito para mudar esse cenário?

KL - Você não muda se não mudar o resto do problema. Nós temos um problema, e a reforma política não consegue sair do papel, que é você não ter o voto distrital misto, que é valorizar ainda mais a região. Você termina tendo representatividade por cada região. Com o voto distrital isso ficar muito mais claro. O Rio Grande do Norte, tal como o Brasil, tem um problema muito sério de falta de distribuição de desenvolvimento. Você tem muita riqueza numa área pequena e muita pobreza numa enorme. E a região Oeste do RN sofreu durante muito tempo por causa disso. Mossoró é uma terra muito rica, de gente empreendedora, ousada e, por força do mossoroense, atenuou um pouco os problemas da região. Eu tenho uma visão especial por causa de Apodi, a família da minha esposa é natural de lá, e aí eu tenho contato mais próximo com a cidade. Outro problema que tem essa região é que os municípios são muito grandes. Mossoró é muito grande. Quando você começa a pensar em PSF, em transporte escolar, os custos que você tem são muito altos, por isso você passa a ter muita dificuldade. Tem que ter um projeto de desenvolvimento do Estado, com descentralização de produtos. O Rio Grande do Norte, no século passado, na década de 40, teve uma grande oportunidade. Na II Guerra Mundial, o norte-americano, que é o maior especialista em logística do mundo, capaz de fazer o chocolate chegar no ponto certo de ser comido, na mão do soldado, no deserto do Afeganistão. Ele disse para a gente: "Vocês têm uma localização especial de toda América. Nós vamos montar a base militar aqui". Ou seja, logisticamente, está muito claro, muito óbvio. O que a gente fez com isto? Nada. A gente não fez estrada que preste, nem ferrovia que preste, não temos um porto que preste, não se fez um projeto de desenvolvimento. Por quê? Porque a classe política não é bem formada para tomar conta, administrar, gerar projetos.


GO - A indústria sem chaminé.

KL - O turismo silencioso. Natal vive disso. Agora, você tem que saber fazer, porque se você tem qualquer hotel na via costeira de Natal não vai pegar um gerente com sotaque nordestino. Você não encontra, em Natal, garçom bilíngüe, pois ele terá emprego, a hora que quiser, ganhando R$ 1.500,00. Você não tem gente qualificada para assumir, porque faltam políticas públicas. E turismo, no RN, é feito única e exclusivamente do privilégio que a gente tem da nossa natureza, localização e clima. E é a iniciativa privada que vai resolvendo as coisas. Mas, política pública para utilizar isso e diminuir a pobreza do nosso povo, não tem, porque só precisa ser simpático.


GO - Isso vai uma crítica à Prefeitura de Natal e ao Governo do Estado?

KL - Essa crítica vai para todos nós que fazemos parte da classe política do Rio Grande do Norte, todos, sem exceção. Não dá para você sentar para conversar com o candidato a governador e só perguntar quais são as alianças que ele vai fazer. Amigo, você está se dispondo a ser candidato. Pode ser que você ganhe. Quando ganhar, vai fazer o quê? E não adianta vir com proposta genérica.



GO - Como advogado, como você avalia a legislação eleitoral?

KL - Eu acho que a legislação eleitoral brasileira é absolutamente capenga. Tivemos, agora, o maior exemplo disso. Esperamos até a semana das eleições para saber qual é o critério de coligação. Isso é um absurdo. Nenhum partido político funciona como deveria. Uma ou outra cidade. Vá aqui no cartório eleitoral das zonas eleitorais de Mossoró e peça a cópia das atas de todos os partidos e veja quando foram as últimas reuniões deliberativas, que não tem. Está errado. Quer consertar da noite para o dia. Só tem uma forma de consertar isso, que é o eleitor mudar o critério de escolha do seu representante, porque aí, pode até ser que fiquem os mesmos, mas eles vão se comportar diferente. O ruim é quando mudam eles e o comportamento é igual.

2 comentários:

  1. sou pinheirista,mais vou votar em flaviano

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  2. Sou Pinheirista e votarei em seu candidato sim, Dr. Kelps, pois ajudar Pinheiro a voltar a prefeitura.

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