segunda-feira, 25 de abril de 2011

CHAPADA DO APODI: Limoeiro do Norte é sede de debate sobre os agrotóxicos



Maior do Nordeste e quarto do Brasil em quantidade de estabelecimentos que usam agrotóxico, o Ceará dobrou, em cinco anos, a venda de veneno e ampliou em 963,3% a venda de ingredientes ativos para os venenos. O dado faz parte de estudo coordenado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), consta de pesquisa de doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e foi extraído do Censo Agropecuário do IBGE. Então, cada novo produto é mais potente (leia-se: tóxico) que o anterior.


O problema é que embora isso reflita uma maior atividade agrícola, também representou aumento de casos de intoxicação aguda nas pessoas, em que o agrotóxico é o principal responsável.


Desde ontem, representantes do Ministério da Saúde estão em Limoeiro do Norte, onde levantamento médico e científico constatou intoxicação aguda em um de cada três trabalhadores avaliados. Irritação, dores, tonturas, depressão, sangramento, fraqueza óssea, redução de memória, câncer e até morte de trabalhadores rurais foram diagnosticados no entorno de perímetros irrigados na Chapada do Apodi.


Se fosse dividida, por habitante, a quantidade de agrotóxicos que é utilizada no País, é como se cada brasileiro utilizasse cinco litros de veneno por ano. O Brasil é, hoje, o maior consumidor mundial desse produto, e o Ceará já era, em 2008, o maior do Nordeste em consumo e quarto no País, só perdendo para os Estados do Sul, conforme o IBGE. Mas, a cada ano, o aumento de evidências do impacto dos agrotóxicos na saúde das pessoas e do meio ambiente tem colaborado com o aumento da discussão: é possível uma vida saudável com veneno?


Conforme enunciado ontem no editorial do Diário do Nordeste, foi constatado agrotóxico no leite materno das mulheres do Município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, Estado com a maior atividade agrícola e maior consumidor de agrotóxicos. De um grupo de 62 mulheres voluntárias, "no leite de todas elas foi constatada a contaminação em níveis preocupantes", afirmou editorial. Os dados são da pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).


A comparação com o histórico epidemiológico de Limoeiro do Norte é inevitável visto que, de forma tardia, persistem neste Município cearense três combinações que coincidem com a cidade de Lucas do Rio Verde: expansão agrícola com grande uso de agrotóxicos (inclusive pulverização aérea), fiscalização frouxa das leis e uma situação de incredulidade das evidências, seja por parte de produtores agrícolas seja por parcela do poder público.


Levantamentos apontados no estudo epidemiológico realizado pelo Núcleo Trabalho Meio Ambiente e Saúde para a Sustentabilidade (Tramas), da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, trazem dados preocupantes. Foram investigados 35 sintomas gerais (pele, olhos, nariz e garganta e neurológicos), os quais fazem parte dos quadros de intoxicação aguda, subaguda ou crônica por diferentes ingredientes ativos de agrotóxicos.


Trinta e três por cento dos trabalhadores entrevistados referiram quadros que podem ser considerados como intoxicação aguda por agrotóxicos. Do grupo de trabalhadores pesquisados, 37% alegaram dores de cabeça, 18% apresentaram agravo na redução de memória e irritabilidade, e outros 49,3% alegaram problemas de pele e, também, mucosas.


No quadro de distribuição de sintomas em órgãos do corpo e sistemas, num levantamento com trabalhadores rurais, foram constatados vários problemas, dentre os quais irritação de nariz, garganta e olhos, dificuldade respiratória, dores no peito, nas pernas, tonturas, depressão, zumbido, tremores no corpo. De 75 trabalhadores de empresas agrícolas "que se sentiram mal pelo uso dos agrotóxicos por segmento", diz a pesquisa, 45,3% foram atendidos na empresa, 21,3% procuraram hospital público, 5,3% em posto de saúde e, o mais grave, 25,3% não procuraram atendimento médico.


Os estudos foram conduzidos pela médica Raquel Rigotto, pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com apoio do Ministério da Saúde e de outras universidades do País.

(Foto: Cid Barbosa/ Diário do Nordeste)
Por Diário do Nordeste

Um comentário:

  1. O pior é que Apodi, está prestes a ser envenenado, e os politicos não estão nem ai, digo executivo, legislatvo, ex prefeitos e forum de entidades( se é que existe), o povo que se ferre. mas todos provoraõ do proprio veneno.

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